1. A ensinança da Iniciativa Liberal (IL) nunca me convenceu e, por vezes, causa‑me indignação: penso, por exemplo, no abate da progressividade fiscal.
2. Porquanto estruturam o modelo de sociedade que se pretende e têm impacto decisivo na vida das pessoas, venho aqui deixar uma nota acerca de relações laborais.
3. No passado fim de semana, Mariana Leitão foi eleita líder da IL. Prometeu um partido de cariz mais ideológico e mesmo radical. Cheira‑me que já nem se contenta com um Estado que seja guarda‑noturno, basta‑lhe um Estado fantasma.
4. Recentemente, Mariana Leitão defendeu «liberdade contratual total» nas leis do trabalho.
5. Mariana Leitão acredita que «trabalhador e empregador devem ter liberdade para definir os termos da relação laboral, num contrato único — desde que de forma livre, transparente e equilibrada».
6. Acontece, Mariana Leitão, que, à partida, a relação laboral não começa com as duas partes no mesmo plano; e, amiúde, não decorre de forma «livre, transparente e equilibrada».
7. Essa é a razão de ser do DIREITO DO TRABALHO.
8. Num universo laboral atomizado, a negociação coletiva faz falta, faz muita falta.
9. Reconheço méritos a Mariana Leitão, mas, sinceramente, o Portugal que ela e a IL almejam causa-me medo: é um país iníquo.
10. Envolto na boa forma — os dirigentes da IL são educados, cordatos e acreditam no que dizem —, o discurso da IL é perigoso (para a classe média e para os de baixo) se posto em prática. Não é a arenga audito crudelior do Chega (quem tem dois dedos de testa topa‑a à distância), mas, de jeito mais suave, choca, também ele, o ovo da serpente da injustiça e da desumanização.