1. No que respeita ao âmbito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, o Governo quer reduzir substancialmente o ensino das matérias relativas à sexualidade.
Essa pretensão é uma marca de retrocesso civilizacional e, posta em prática, terá consequências nefastas para a sociedade.
Sem prejuízo daquilo que os jovens aprendam no seio da família — e há famílias em que, por pudor, preconceito, conflitualidade ou falta de informação, não se toca nesses assuntos —, é indispensável que todos eles tenham acesso, na escola, a sólida educação sexual e à informação estruturada, empírica e fundamentada que ela implica.
A lição que versa sobre sexualidade tem um efeito irradiante: ajuda a conhecer o corpo, traz benefício para a saúde sexual e reprodutiva, contribui para evitar infeções sexualmente transmissíveis e gravidezes não desejadas. Bem assim, facilita o combate aos estereótipos, à homofobia, à bifobia e à transfobia. E tem parte na luta contra a objetificação das raparigas e no desenvolvimento de relações afetivas felizes e saudáveis, em que o consentimento é ponto importante — a cabal instrução no domínio da sexualidade concorre para a prevenção da violência de género, tópico assaz relevante num país com muita bruteza de cariz misógino, designadamente agressões durante o período de namoro (não se espera que as disciplinas ligadas às ciências naturais, focadas no aparelho reprodutor e na fertilidade, tenham por objeto esses temas).
As melhores decisões assentam na informação, naquilo que, de maneira sistematizada, se aprende nas aulas. Ou vamos deixar as respostas a cargo do Google, do TikTok e dos influenciadores digitais?
Um regime democrático deve garantir educação sexual a todos os jovens. De resto, já se sabe: quando os problemas surgem (a gravidez indesejada, por exemplo), são de mais fácil resolução para quem tem posses. E, numa perspetiva utilitarista, as falhas têm impacto na saúde pública (pense‑se na propagação das doenças sexualmente transmissíveis e na necessidade de meios para as tratar).
O sexo gera contentamento físico e espiritual, nos jovens e nos adultos. Falo agora como homem heterossexual: à maioria dos heterossexuais, nada dá tanto prazer como satisfazer uma mulher, na cama e na vida. Mas, para isso, é necessário desenvolver a inteligência erótica e uma boa educação sexual oferece ferramentas preciosas. Lanço aqui o alerta: cada vez mais mulheres sofrem de heteropessimismo.
2. Primeiro desabafo. O Partido Social Democrata (PSD) lidera a coligação que governa o nosso país. No que levamos de democracia, eu votei, na maior parte das vezes, no PSD. Mas este PSD, ultramontano, já não é o meu PSD.
3. Segundo e último desabafo. Os que fizeram pressão no sentido de suprimir ou de limitar a ensinança de matérias atinentes à sexualidade devem ter vidas sexuais frustrantes. Talvez por lhes ter faltado aprendizagem.
