No Museu do Hospital e das Caldas

Instalado num palacete, o museu propõe textos com informação acerca do desenvolvimento do termalismo nas Caldas da Rainha e apresenta várias peças que estiveram no hospital termal, por exemplo: relógios de parede; um painel de azulejos, do século  xvɪɪɪ, que reproduz São Pedro a curar um enfermo, e um outro, de 1667‑1668, que indica a ração de carneiro a dar aos aquistas à hora de jantar; um conjunto, do século xɪx, formado por mesa e dispositivos para inalações; um fogareiro, exemplar de uma espécie que servia não só para aquecer os aposentos, mas também para os perfumar e evitar a prevalência dos maus cheiros.

Confesso, ainda assim, que, terminado o giro no museu, reinava em mim a sensação de, mais do que ter estado num espaço dedicado à história de uma estância termal, haver circulado num museu de arte, mormente de arte religiosa, onde apreciara, em particular, um canapé e um par de cadeiras de estilo Thonet, e ainda duas obras provenientes da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, a saber, um tenebrário de pau‑santo, do século xvɪɪ, e um óleo, atribuído a Josefa de Óbidos, no qual esta pintou Nossa Senhora do Pópulo e o Menino.

Museu do Hospital e das Caldas, canapé de estilo Thonet

Decorria uma mostra de trabalhos de estudantes da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e, justamente quando eu estava no museu, os autores de alguns desses trabalhos, acompanhados pelos seus colegas, andavam por lá. A arte desabrocha o espírito e, pelo que vi, também desata a afirmação da identidade de género — acredito ter visto jovens de três ou quatro géneros. Quanto às obras, saliento uma balança de pesos das dores no corpo e das dores de alma, obra de Rafaela Gonçalves intitulada Corpo e Alma. Tinha dois recipientes de vidro e o visitante podia pôr uma pedrita num deles, consoante o mal que mais o afligisse. O travessão da balança pendia para as dores de alma e tal não me espantou, os problemas de saúde mental constam da lista de assuntos pertinentes do nosso tempo.

A propósito: conheço gente que dispõe de tudo para ser feliz e não consegue sê‑lo, pessoas com boca que de modo ligeiro foge para a queixa e incapazes de pôr o foco naquilo que lhes faz bem e realmente interessa. Um certo back to basics não lhes faria mal. Outrossim, lastimo a vida da malta descabeçada que, sem necessidade, corre de um lado para o outro e dá ares de padecer de FOMO (fear of missing out), que é incapaz de pousar para pensar e foi tomada pela vertigem do trânsito e do facere.

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