Oitavo texto de uma série baseada na viagem, devotada ao património cultural, que fiz no Sul da França (Costa Azul e Provença) durante o verão de 2025
A Capela dos Penitentes Brancos, erguida no século xvɪɪ em Saint‑Paul‑de‑Vence, serviu de sede local à confraria com o mesmo nome, dedicada à beneficência. Os respetivos membros acolhiam peregrinos, prestavam assistência aos enfermos, entregavam roupa e alimento aos pobres, distribuíam cereais aos camponeses afetados por calamidades.
Jean‑Michel Folon, artista belga multifacetado — concebeu selos do correio e cartazes, foi pintor, gravurista, serígrafo, escultor, tapeceiro e vitralista —, tinha amigos em Saint‑Paul‑de‑Vence e de vez em quando visitava a terreola. Convidado a decorar a Capela dos Penitentes Brancos, para o efeito ideou um mosaico, quatro vitrais, oito pinturas e duas esculturas.
O mosaico, de tesselas, encontra‑se na parede fundeira. Representa Saint‑Paul‑de‑Vence e o generoso sol que a ilumina. Cativou‑me em razão do contraste entre os tons claros do núcleo histórico da povoação e aqueloutros, mais escuros, das zonas verdes que a circundam.
Os vitrais, os óleos e mesmo as esculturas formam um grupo temático coerente, radicam no exercício da misericórdia e da caridade por parte da confraria dos Penitentes Brancos. Eis alguns exemplos: numa das vidraças, a mão apresenta um coração, em jeito de dádiva; num dos óleos, duas mãos aproximam‑se uma da outra, em antecâmara de um gesto solidário e fraterno; na escultura que arremeda um altar, uma grande mão aberta acolhe uma figura humana.
Na zona velha de Saint‑Paul‑de‑Vence, eu a Jūratė sentimo‑nos agredidos pelo turismo de massa que comandava espíritos, vontades e sortimentos de bens para venda. Abençoada seja a arte: enquanto estivemos na Capela dos Penitentes Brancos, esquecemos as feiuras que tomavam conta das ruas.
