Em Bruxelas, num bairro pouco agradável à vista, encontra‑se o restaurante Les Caves d’Alex. É bonito, a sua conceção seguiu traço moderno. Opera nas instalações de um antigo estabelecimento de comércio de vinhos, a sala de refeições abre para um corredor com tonéis. O serviço é impecável, o chefe Alexandre Cardoso manda nas panelas, o escanção Hugues De Cuyper preside à escolha da bebida.
Ninguém sairá das caves em causa descontente, os enófilos e os apreciadores de carne ficarão mesmo muito satisfeitos.
A ementa revela influência da cozinha francesa, patente, por exemplo, na oferta de quenelles de brochet com molho Nantua — bolinhos de lúcio, oblongos e que apresentam os ingredientes bem ligados, com um preparado cremoso feito à base de bechamel e de manteiga de lagostim.
Ainda no domínio das entradas, menciono: as vieiras assadas e sua escolta de trufas, alho‑francês e caldo de galinha com nata; o tutano assado e a trufa que o acolita; o carpaccio de robalo, acompanhado por pés de porco; e o tártaro de vitela «Harry Raven», servido com miolo de sapateira e toranja. Harry Raven é o nome de um criador de bovinos de raça limusina.
Quanto aos pratos principais, o restaurante propunha, entre outros: moleja de vitela, croquete de batata e salsifis com creme trufado; moleja de vitela, legumes, batatas fritas em banha de bovino e molho bearnês com lavagante; entrecosto à bordalesa; bife do lombo «Noire des Baltiques» (carne tenra e saborosa, de uma raça de bovinos criados perto do mar Báltico, sobretudo ao ar livre), guarnecido por batatas fritas e molho bearnês; turnedó Rossini, igualmente preparado com esse tipo de carne.
Depois dos acepipes, pastéis de salmão e pastéis de anchova, chegaram à mesa o bife do lombo «Noire des Baltiques» e a moleja de vitela, na primeira das variantes acima referidas. De tudo gostámos, eu e a Jūratė, mas ficaria mal não pôr em destaque a virtude do bife e a sua acurada preparação, à uma, e o sabor distintivo dos molhos — o bearnês e o que leva trufas—, à outra parte.
Da lista de sobremesas, constavam queijos, dame blanche (gelado de baunilha, chantili e molho de chocolate), leite‑creme, Paris‑Brest, coronel (um pospasto com gelado de limão) e crepes Suzette. Pedimos dame blanche e Paris‑Brest, ambos de qualidade irrepreensível.
Aos enófilos, a lista de vinhos anuncia o paraíso. Aí foi arrolada pinga de várias partes do mundo. Topei dois Vega Sicilia, vários tintos de Châteauneuf‑du‑Pape e mesmo um Petrus. Eu e a Jūratė cingimo‑nos à oferta de vinhos servidos em copo, a nossa escolha recaiu sobre um madiran de 2017, encorpado e com final persistente.
A generalidade da clientela denotava comedimento. Gente que não tinha o melhor dos gostos para se aperaltar, mas que, pelo menos, era discreta.
Sentado à mesa que estava por trás do meu lugar, achava‑se um janota ao qual imputei falta relevante em sede de cidadania. Ele preferia as «femmes d’autrefois». Entenda‑se: as mulheres às quais se coartava o espírito crítico e inibidas de expressar a sua vontade. Durante aquele jantar de sexta‑feira, só esse registo me pesou.
