Em Caunas, eu e a Jūratė refeiçoámos em dois restaurantes da cadeia Bernelių užeiga.
Um deles fica numa casa de cânone tradicional, cuja decoração, carregada de motivos com interesse etnográfico, é aconchegante e convoca ancestralidade. Da primeira vez que lá fomos, bebemos a cerveja da casa e comemos uma iguaria caraterística da gastronomia lituana, vėdarai — tripas de porco com recheio de batata ralada. Trata‑se, afinal, de salsichas de batata, em regra acompanhadas por nata ácida (sour cream) e por pedacitos de toucinho. Os funcionários e a generalidade dos clientes patentearam comedimento e boa educação, as maneiras dissonantes vieram de um turista, importuno e excessivamente inquisitivo.
Voltámos a esse estaminé, que tanto havia satisfeito o nosso palato, e não nos arrependemos. Optámos pela sopa de cogumelos — com toucinho fumado, legumes e cobertura de nata ácida —, servida no interior de um pão escuro, e pelo filete de robalo com molho de cebola caramelizada, puré de batata e legumes frescos marinados. De novo lidámos com gente discreta. Destoava um casal de orientais, que solenizavam a chegada dos pratos à mesa e que por tudo e por nada se excitavam.
Almoçámos uma vez no restaurante Bernelių užeiga situado no centro comercial Akropolis. Aí, a nossa escolha recaiu no prato que assinalava o solstício de verão, um rolo de carne recheado com legumes, e em gira, bebida — com baixo teor alcoólico — resultante da fermentação natural do pão, designadamente do pão de centeio.
Na pastelaria‑restaurante 101 Kepyklėlė, pedimos sopa quente de beterraba, žemaičių blynai (panquecas de batata recheadas com carne picada, guarnecidas por nata ácida) e varškės spurgos (bolos esféricos, fritos, cuja massa leva queijo cottage).
Assim é a cozinha da Lituânia. Deixa boa boca, mas, mesmo no verão, é pesada e pode provocar contratempos aos que são frágeis de estômago.
Os Lituanos são nacionalistas e solidários com os povos amigos da sua pátria, em particular com aqueles que sofrem investidas ou ameaças de agressão por parte da Rússia. Isso nota‑se na restauração. O frango à Kiev não é novidade nestas paragens, mas agora, por causa da guerra na Ucrânia, é proposto e servido com mais frequência. Outrossim, mercê das boas relações entre a Lituânia e a Geórgia, há vários estabelecimentos de cozinha georgiana em Caunas. Num deles, comi uma excelente espetada de porco. Porém, o vinho que provei contrariava a reputação vinícola da Geórgia e vi‑me obrigado a trocá‑lo por cerveja.
A terminar, falo de sūreliai. Na Lituânia, contam‑se entre as minhas perdições. São barras de queijo — cottage, por via de regra — com forro de chocolate, às quais podem ser aditados outros ingredientes (caramelo, por exemplo). Comê‑las é vício que nunca me sacia e, para não variar, durante a estada em Caunas reincidi no dulcíssimo pecado.