Décimo sexto texto de uma série baseada na viagem, devotada ao património cultural, que fiz no Sul da França (Costa Azul e Provença) durante o verão de 2025
Paul Cezanne (Aix‑en‑Provence, 1839 – Aix‑en‑Provence, 1906) navegou por águas do impressionismo, superou‑o e produziu obra que, mercê da geometrização das formas e dos preparos relativos à cor, concorreu, respetivamente, para o nascer do cubismo e do fauvismo.
Venho soltar registo acerca de uma das melhores exposições que vi em 2025, Cezanne au Jas de Bouffan, patente ao público no Museu Granet, em Aix‑en‑Provence. Na grafia original, o nome do artista não leva acento, tal foi respeitado pelos organizadores do evento.
Na dicionarística, o termo «jas» refere‑se, em terras da Provença, a um edifício ou a um conjunto de edifícios destinados à criação de gado ovino. Não sei se isso corresponde ad amussim à propriedade rústica que, em 1859 e com o intuito de vincar a sua ascensão social, o pai de Paul Cezanne comprou a oeste de Aix‑en‑Provence. Certo é que — denota‑o a mostra em apreço — nela se ancora parte relevante da empresa do mestre, que aí se dedicou às naturezas‑mortas e pintou a grei local, a parentela, banhistas, diversos lugares da quinta e gente que a frequentava. Bem assim, Cezanne decorou as paredes do salão da vivenda situada no jas, mormente com alegorias das quatro estações do ano.
O significado preciso de «Bouffan» continua por esclarecer.
Por causa do número razoável de fotografias que acompanham o texto, dividi o registo por dois escritos. A seguir referirei pinturas a óleo com vistas da granja ou com naturezas‑mortas.
1. Vistas do Jas de Bouffan


O bosque, o jardim, o tanque, a álea dos castanheiros, a casa, tudo Cezanne transpôs para a tela.
Tanto eu como a Jūratė notámos que, pelo punho do artista, as cores quentes da moradia e do piso de terra batida fazem cantar os verdes da natureza. O jogo dos planos horizontais com a verticalidade das árvores e o toque de pincel que agitou as folhas delas seduziram‑nos.
As Árvores Despidas no Jas de Bouffan (1885‑1886) revela uma composição triste, de ressonância melancólica, na qual os ramos das árvores colocadas perto do centro convidam a olhar para a parte inferior da imagem.

Bosque no Jas de Bouffan (1871) e o quadro homónimo de 1875‑1876 exibem, de maneira diversa, o mesmo cenário. O primeiro, de traço espesso, cai para o escuro; no segundo, a luz e a claridade são chamativas e, em razão da influência que Camille Pissaro exerceu sobre Cezanne, a pincelada é mais ligeira.


2. Naturezas‑mortas
Em ateliê instalado nas águas‑furtadas da casa do Jas de Bouffan, Cezanne entregou‑se a experimentações relacionadas com as naturezas‑mortas. Foi arrumando toalhas de mesa, fruta, jarros, pratos e outros objetos de cerâmica, num equilíbrio que parece instável, mas do qual ressai acordo. Ficou conhecido como o «pintor das maçãs», tantas vezes as usou — conservam‑se durante algum tempo e Cezanne trabalhava devagar.
N’A Natureza‑Morta com Cerejas e Pêssegos (1885‑1887), a escolha da cor é feliz, o equilíbrio é ático e cria observação equipendente.
A fim de preparar A Mesa de Cozinha (1888‑1890), Cezanne serviu‑se de moedas para inclinar alguns elementos e assim alterar a perspetiva; a imagem surge carregada, o cesto da fruta talvez acabe no chão, o jarro está descaído, as peças de fruta encontram‑se aqui e ali, mas a composição é bonita e não deixa de ser harmoniosa.


Na próxima deposição, também ela resultante da visita que fiz a Cezanne au Jas de Bouffan, mencionarei retratos e representações de banhistas, de pessoal da quinta e de uma cena de género. Aludirei igualmente a um dos quadros que o mestre pintou na Provença, fora do jas.