De Cuba (II)

TRINIDAD

Terra cozida molda vidas que o engenho dispersou por casas de piso único

Janelas sem vidro. Insolente, a música. Envolve salas, pátios, profana cisternas, poços, alarga e encolhe a cidade. Já não se sabe o que é cidade

Biografia sacudida em movimentos de acordeão

Abertas, as bocas transformam-se em piras

O silêncio, se existe, é silêncio de contrabandista

Fruste apelo a iemanjá, antecâmara de fruta e pedras que os cubanos furtaram em estrada nascida de arco

Em Trinidad, os deuses enxovalham o silêncio

NÃO HÁ HOMENS NEM MULHERES

Em Cuba

os corpos desaparecem

na dança que os habita

Não há homens

nem mulheres

apenas música de que nasce

vida


Poemas publicados no livro Viagem (Editora Licorne, 2015).