TRINIDAD
Terra cozida molda vidas que o engenho dispersou por casas de piso único
Janelas sem vidro. Insolente, a música. Envolve salas, pátios, profana cisternas, poços, alarga e encolhe a cidade. Já não se sabe o que é cidade
Biografia sacudida em movimentos de acordeão
Abertas, as bocas transformam-se em piras
O silêncio, se existe, é silêncio de contrabandista
Fruste apelo a iemanjá, antecâmara de fruta e pedras que os cubanos furtaram em estrada nascida de arco
Em Trinidad, os deuses enxovalham o silêncio
NÃO HÁ HOMENS NEM MULHERES
Em Cuba
os corpos desaparecem
na dança que os habita
Não há homens
nem mulheres
apenas música de que nasce
vida
Poemas publicados no livro Viagem (Editora Licorne, 2015).