De Cabo Verde

AZUL

Na ilha do Sal, o azul é um modo de ilusão e de apostasia. Quando o pensamos turquesa, logo se torna marinho, escuro. Ou aparece na mistura das duas tonalidades, confuso, amante hermafrodita. A fusão atinge o paroxismo na agitação das águas da Buracona. É também aí, no fundo da gruta, que ele se deixa ver em humor raro de mina. Azul mago: em Terra Boa, quando o observamos ao longe, para lá da favela e da aridez, imaginamos água. Ilusão, é uma miragem. A libertação parece próxima, no táxi – igualmente azul – que há de levar-nos ao aeroporto. Mas as saídas, céu ou mar, assumem a mesma cor. Obsidiante, a libertação.


Texto publicado no livro Viagem (Editora Licorne, 2015).