Quinto texto de uma série baseada na viagem, devotada ao património cultural, que fiz no Sul da França (Costa Azul e Provença) durante o verão de 2025
A Ioannis Kontaxopoulos
1. Jean Cocteau (Maisons‑Laffitte, 1889 – Milly‑la‑Forêt, 1963) deixou pegada de tipo diverso, foi poeta, romancista, dramaturgo, cineasta, crítico de arte, pintor, desenhador e ilustrador — dos seus textos e dos livros de outrem. Concebeu também obras de cerâmica e de tapeçaria.
Em Menton, decorou a sala de matrimónios da câmara municipal, pintou um fresco no gabinete do respetivo presidente e dirigiu os trabalhos de requalificação de um fortim onde hoje funciona um museu devotado à sua empresa.
Para a frontaria do museu, idealizou três mosaicos, formados por seixos e postos acolá dois anos depois da morte de Cocteau. Num deles, voltou a apresentar o par de noivos com que adornou a Sala de Casamentos; no segundo, reproduziu o rosto de Orfeu, com o cabelo desgrenhado; no último, debuxou um fauno, visto de perfil. Tais feituras são, na verdade, os únicos ornamentos da fachada que denotam charme.

2. Eu e a Jūratė visitámos a mostra patente no museu, Le château des merveilles: punha em destaque peças de cerâmica — imaginadas por Cocteau e integrantes de uma coleção privada — e cotejava‑as com outras obras do artista, mormente tapeçarias, desenhos e litografias.
Enxergámos ali plástica interessante e sentimos a força libertadora da arte, capaz de nos fazer esquecer um início de dia encapelado.
Cocteau afirmou que sempre sonhara ser arqueólogo; não o sendo, almejava criar aquilo que gostaria de encontrar na terra, no solo. Travou conhecimento com Marie‑Madeleine Jolly e com Philippe Madeline, que compunham um casal de oleiros estabelecido na Costa Azul, e achou que, sem trair as suas intenções, eles seriam capazes de passar para o barro personagens mitológicos, dançarinos, arlequins, pescadores, anjos e todo um conjunto de criaturas que povoavam o seu universo. Dessarte ideou pratos, copos e vasos que vimos na exposição em causa. Um dos pratos, La Côte d’Azur, oferece simplicíssima imagem da Riviera Francesa, não deixando de ser também uma das mais sugestivas e completas representações que dela conheço.



