No Museu Bonnard, em Le Cannet

Terceiro texto de uma série baseada na viagem, devotada ao património cultural, que fiz no Sul da França (Costa Azul e Provença) durante o verão de 2025

1. Pierre Bonnard (Fontenay‑aux‑Roses, 1867 – Le Cannet, 1947), um dos fundadores do grupo dos nabis, assistiu ao correr de vários movimentos artísticos (cubismo, fauvismo, expressionismo, surrealismo…), mas não se integrou em nenhum deles. Tampouco foi um artista engagé.

Bonnard distinguiu‑se graças ao uso da cor, as suas composições são bonitas, deveras calicromas, o respetivo poder falante advém das tinturas. Mesmo recorrendo a tons vivos, soube construir imagens impregnadas de melancolia.

Figurativista, pintou retratos, naturezas mortas, cenas de interior e paisagens, amiúde com fons et origo no seu quotidiano. Foi um marido devotado, mas não fiel. A sua mulher, uma misantropa chamada Marthe, aparece em diversos óleos de Bonnard, que também representou algumas das amantes que teve.

Seduzido pela luz e pelas vistas do Sul da França, aí passou umas temporadas. Em Le Cannet — onde comprou casa em 1926 e se fixou em 1939 —, pintou cerca de trezentos quadros.

Pierre Bonnard, Vista de Le Cannet (Coleção Sidarta)

2. Decidi visitar o Museu Bonnard: interessa‑me a arte afeiçoada aos locais aonde vou e soubera que o seu acervo inclui panoramas de Le Cannet que Pierre Bonnard lançou na tela. Sucede que, conquanto sempre pressuroso na preparação dos passeios devotados ao património cultural, tinha‑me esquecido de espreitar a página web do museu, mormente a fim de apurar se as peças que lhe pertencem se achavam à vista.

Não. Aquilo que se podia apreciar eram obras — magníficas, é certo — que compõem a Coleção Sidarta. Para minha fortuna, esta inclui óleos de Bonnard que estavam expostos, aqui menciono três deles.

Em Vista de Le Cannet (1938‑1942), gostei do motivo, da paleta de cores e do toque sarapintado na vegetação. No Terraço em Vernonnet (1913), reprodução da propriedade normanda de Bonnard, as árvores formam cortina de diversos matizes e permitem lobrigar o Sena, o rosa arroxeado do estrado realça as jardineiras e as plantas que delas saem. Quanto a O Pequeno‑Almoço (1917), o pincel converteu um episódio banal, a refeição, num objeto chamativo e visualmente forte. Fê‑lo por meio da linguagem das cores.

Pierre Bonnard, O Pequeno‑Almoço (Coleção Sidarta)
Pierre Bonnard, Terraço em Vernonnet (Coleção Sidarta)
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