Francisca Stoecklin nasceu em setembro de 1894, em Basileia, e morreu na mesma cidade em setembro de 1931. Publicou poesia — que versa, designadamente, sobre o amor, a morte e o sonho — e prosa. Além de escritora, foi pintora e litógrafa.
Aqui deixo o texto original e uma versão em língua portuguesa de quatro poemas seus. A segunda, da minha lavra, foi publicada em dezembro de 2015 no n.º 23 da revista DiVersos – Poesia e Tradução (agora, nela introduzi alterações).
Anacapri bei Nacht
So geisterhaft schimmern
die weißen Häuschen im Mondlicht.
Die Mauern und Kuppeln
wölben sich weich
und besänftigend wie Schnee.
Fern atmet das Meer.
Aus den Gärten strömet Duft
aus tausend blassen
und glühenden Kelchen,
unaufhörlich zu den Sternen …
Anacapri de noite
Cintilam, tão irreais,
as pequenas casas brancas ao luar.
As paredes e as cúpulas
abaulam‑se, maleáveis
e balsâmicas como neve.
Distante, o mar respira.
Dos jardins exala‑se o perfume
de mil cálices,
desbotados e incandescentes,
sem cessar rumo às estrelas…
Die singende Muschel
Als Kind sang eine Muschel
mir das Meer.
Ich konnte träumelang
an ihrem kühlen Munde lauschen.
Und meine Sehnsucht wuchs
und blühte schwer,
und stellte Wünsche und Gestalten
in das ferne Rauschen.
A concha cantadora
Quando era criança, uma concha
cantava-me o mar.
Enquanto os sonhos duravam, eu podia
ficar a escutar à beira da sua boca fresca.
E a minha saudade crescia
e florescia, pesada,
e depositava anseios e formas
no murmúrio distante.
Schweigen der Nacht
Die Nacht trägt gar ein stilles Kleid,
Aber in seinen Falten wacht das Leid.
Die Nacht ist voll Ruhe und wie ein Grab.
Vor Dunkelheit sehn wir keine Klippen.
Jetzt wirft einer sein Lächeln ab,
Und sehnen Frauen mit durstigen Lippen.
Jetzt entfällt meinen Kinderhänden das Ziel
Jetzt schweigen alle – nur der Tod spricht viel.
Silêncio da noite
É certo que a noite enverga um traje tranquilo,
nas suas dobras está, porém, desperta a dor.
A noite está repleta de paz e como um túmulo.
Por mor da escuridão não vemos rochas.
Agora alguém deixa cair o seu sorriso
e as mulheres desejam com lábios sedentos.
Agora o fim escapa às minhas mãos de criança
agora todos se calam – só a morte fala muito.
Ein Schlaflied
Blauer Abend,
Gutes Schweigen.
Will mich ganz in
Schlummer neigen.
Fern noch rauschen
Nahe Bäume.
Engel bringen
Silberträume.
Schlafe, schlafe …
Wind und Stille -.
Alles hütet
Gottes Wille.
Uma canção de embalar
Noite azul,
silêncio bom.
Quero entregar-me
inteira ao sono.
Ao longe ainda murmuram
árvores próximas.
Anjos trazem
sonhos de prata.
Dorme, dorme…
Vento e sossego –.
Por tudo olha
o querer de Deus.
