As próximas eleições no FCP representam mais do que eleições no FCP

Se escrevo sobre as eleições no Futebol Clube do Porto (FCP), é porque em causa está mais do que um mero sufrágio. Não só pelo relevo que o futebol tem na sociedade e por se achar em apreço uma instituição importante, amiúde considerada bandeira de uma cidade e de uma região, mas também pelas condições em que o ato eleitoral decorrerá e pelo perfil dos que encabeçam as listas apresentadas a votação.

Na infância e na adolescência fui adepto ferrenho do FCP. Depois, deixei de torcer por esse clube. Grande parte daquilo que dele me afastou — o tribalismo, a cultura do ódio e da intimidação, o aviltamento do adversário — tem vindo à tona nos últimos tempos, sobretudo desde que André Villas‑Boas mostrou vontade de se candidatar à presidência da agremiação.

Enquanto dirigente desportivo, Pinto da Costa é senhor de um percurso ímpar e brilhante, é corresponsável pelos títulos que o clube conquistou, por isso merece parabéns. Todavia, caiu no erro em que muitos caem após um trajeto de sucesso: não soube sair no momento certo, denota apego ao poder. É triste, a figura que faz. Creio que já só os anormais e os néscios apreciam as suas bravatas. Quanto ao referido trilho de glória, ele é, cada vez mais, uma recordação, o FCP perdeu competitividade.

Embora tenha obtido receitas consideráveis, o clube encontra‑se numa péssima situação financeira. A avaliar pelo que leio na imprensa, há gente na órbita do FCP cujos negócios redundam em prejuízo para ele. Por outra banda, as remunerações de Pinto da Costa e dos outros integrantes da cúpula da instituição são obscenas. Outrossim, a má planificação desportiva teve consequências nas finanças, o FCP perdeu vários jogadores (Herrera, Mbemba, Uribe…) sem conseguir recuperar o valor do respetivo passe.

Deixo ainda uma pergunta. Fará sentido, a alguns dias das eleições, determinar o local de construção da academia portista e vender, por 25 anos, quinhão relevante dos direitos com valor económico relativos ao Estádio do Dragão? Parece‑me que deveria ser a próxima direção a tomar esse género de decisões.

Diz‑me com quem andas, dir‑te‑ei quem és. Alguns dos mais emblemáticos apoiantes de Pinto da Costa são indivíduos que provocam medo. Menciono, por exemplo, Fernando Madureira e Bruno Pidá (o primeiro mora agora no sítio certo, no local que corresponde às suas façanhas e ao seu currículo). Mas, na verdade, são indivíduos que quadram bem com o universo de Pinto de Costa e com o estilo que o clube adotou.

Basta de tribalismo, de cultura do ódio, de intimidação. O FCP deve mudar de rumo. Aplaudo a coragem de André Villas‑Boas, candidatar‑se contra Pinto da Costa acarreta a exposição a perigos de vária ordem. O Porto é uma cidade franca e liberal. O clube com o qual ela tantas vezes se confunde não pode ser guardado por jagunços e merece que ao seu leme esteja gente larga de espírito e digna do século xxɪ. É uma questão de arejo, de liberdade, de modernidade e de democracia. E também de contas bem feitas.

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