1. Considero‑me social‑democrata, o meu voto em eleições legislativas vem oscilando entre PS e PSD.
Caso Rui Rio fosse o líder do PSD, e mercê da recentragem do partido que isso significaria, eu admitiria dar preferência ao PSD. Julgo que este prestaria atenção à classe média, aos pequenos empresários, aos trabalhadores. Em certo momento, tal fez a força do PSD. Um país com classe média forte é, ao menos tendencialmente, um país coeso.
Porém, depressa descartei votar na AD. Luís Montenegro carece de sentido de Estado. No debate com Pedro Nuno Santos, assustou‑me a resposta que deu ante uma manifestação de polícias que se colocaram fora das raias da lei. Sob pressão, Luís Montenegro cedeu, claudicou, imagine‑se o que aconteceria se ele fosse primeiro‑ministro. Quanto a Pedro Nuno Santos, mostrou a fibra e a autoridade exigíveis a um chefe de governo.
E, lamento dizê‑lo, falta honestidade política ao atual líder do PSD. Mentiu quando disse que, nos últimos anos, só o PS e a sua gestão impuseram cortes nas reformas. Embora o executivo de José Sócrates o tivesse feito e o Memorando de Entendimento contemplasse reduções adicionais, a administração passista ainda veio introduzir novos abatimentos. Acresce que o governo de António Costa acabou por não aplicar os cortes que havia proposto.
O choque fiscal é o «menino dos olhos» da AD. Todavia, no debate com Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro mostrou desconhecer aquilo de que estava a falar, nomeadamente quanto à dimensão da perda de receita pública.
A AD conjetura um entendimento pós‑eleitoral com a IL. Ora, por uma banda, a IL representa o avanço de um capitalismo selvagem, desregrado. Por outra, apesar de ser uma organização jovem, cedo ganhou os péssimos hábitos de outros partidos: veja‑se a forma como tratou Carla Castro, uma deputada séria e competente. Se a matemática o exigir, creio que a AD se aliará ao Chega. No comício de Faro, Passos Coelho deixou aberta essa possibilidade. Com ou sem Montenegro, o «não» ao Chega transformar‑se‑á em «nim». E o Chega é um perigo para a democracia.
Paulo Núncio é vice‑presidente do CDS, é senhor com responsabilidades. Desse partido, só ele e o líder se encontram em posição claramente elegível nas listas de candidatos a deputados da AD. São preocupantes as suas declarações acerca da interrupção voluntária da gravidez, da hipótese de convocar um referendo para deliberar sobre algo que a sociedade tem por assente. Luís Montenegro excluiu a realização de tal referendo, mas, na cabeça de alguns, esta AD de registo liberal rima também com aliança para o retrocesso civilizacional.
Dito isto, louvo algumas medidas previstas no programa da AD. Refiro, por exemplo, o projeto de criminalizar certas formas de violência, propondo a tipificação especial e específica do crime de assédio sexual e do crime de «ciberperseguição», de «ciberassédio» e de incitamento à violência e ao ódio online.
Não sei se Passos Coelho é um ativo tóxico para a AD. Talvez não, permite conquistar votos ao Chega. Durão Barroso e Cavaco Silva — político que, no passado, respeitei, no qual votei e que hoje me provoca desprezo — são‑no. Ninguém explica isso a Luís Montenegro? Por este andar, já nem me espantaria que a AD trouxesse Dias Loureiro para a campanha.
2. Mariana Mortágua é uma mulher capaz e bem preparada, interessa‑se pelo bem‑estar do humano, da pessoa de carne e osso. Atentando no estado do Portugal social, feito em cacos, aplaudo várias medidas que o BE defende, como a fixação de tetos para as rendas, as limitações impostas ao alojamento local e a proibição de venda de casas a não residentes, com ressalva aplicável aos emigrantes lusos, aos estrangeiros moradores em Portugal e às transações de imóveis em territórios de baixa densidade populacional.
No entanto, o BE tem uma matriz antieuropeísta, propõe que Portugal saia da NATO e, no conflito da Palestina, só logra compreender um dos antagonistas. Não preciso, pois, de ir mais longe nas minhas reflexões.
Simpatizo com a coluna europeísta do Livre e com a filosofia subjacente ao programa eleitoral desse partido a propósito do tempo de trabalho. Acho que a maior parte dos indivíduos será mais feliz numa sociedade que valorize o tempo livre. Todavia, eriça‑me saber que o Livre advoga um referendo à regionalização e, num momento em que se requer clareza, julgo que são lastimáveis as declarações de Rui Tavares acerca do diálogo com a direita democrática.
Nunca cogitei votar no PAN. É um partido de fanáticos de uma causa.
3. Votei no PS (já exerci o meu direito de voto, sou emigrante e fi‑lo por via postal).
Desde logo, por razões estratégicas, na esperança de que tenha mais votos do que a AD e seja chamado a formar governo.
Suponho que, mais do que a AD e para não ser socialista apenas no nome, o PS defenderá o SNS, a escola pública e os restantes serviços públicos. Inter alia, o PS dispõe‑se a avaliar a possibilidade de obrigar os profissionais de saúde a permanecerem, por um período mínimo, no SNS; e pretende tornar mais atrativo o início da carreira docente, continuar a diminuir a precariedade dos vínculos e reduzir o hiato que existe entre os índices remuneratórios da base da carreira docente e os índices mais altos.
Ao contrário da direita, vi e vejo o PS a defender os salários e, sem pôr em causa a saúde das finanças públicas, a estimular a economia e o consumo.
Aplaudo várias medidas que constam do seu programa eleitoral, aqui menciono algumas.
Em matéria de habitação, a prestação, por parte do Estado, de uma garantia nos créditos para compra de casa própria de pessoas que tenham até quarenta anos e ainda não sejam proprietárias. Em caso de incumprimento, o Estado assumirá a posição do devedor no crédito e com ele celebrará um contrato de arrendamento. E também o agravamento das mais‑valias relativas a imóveis adquiridos e vendidos sem terem sido recuperados ou habitados.
No universo laboral, reforço dos incentivos à sindicalização e ao associativismo empresarial. Espero que sim. É aos sindicatos — e não aos movimentos inorgânicos, que fazem barulho e ateiam fogo de vista — que se deve a obtenção de benefícios para quem trabalha. Incremento das atividades da Autoridade para as Condições do Trabalho que visam controlar as condições de trabalho dos imigrantes (condições contratuais, observância de horários laborais e das regras de higiene e segurança no trabalho, garantia de efetivo pagamento dos salários).
Quanto à política externa, no caso do conflito do Médio Oriente, defesa da solução de dois Estados.
É verdade que estou cansado da governação do PS. Mas pensei, pensei muito, e concluí que o voto no PS era o que melhor servia Portugal.
Um arranjo pós‑eleitoral da esquerda será positivo, a gestão da geringonça repôs rendimentos sem lesar as finanças públicas. E, pela natureza do Chega, torna‑se mais fácil conseguir uma solução governativa estável à esquerda do que à direita.